``Re-imaginar a Democracia em África: Caminhos para Políticas Curativas`` em debate na conferência do MFF 2021
“Re-imaginar a Democracia em África: Caminhos para Políticas Curativas” é o tema da 3ª sessão da Conferência do MFF 2021 – que terá lugar a 27 de Outubro na Fundação Fernando Leite Couto e online – e que tem como curadora convidada para esta sessão a socióloga e antropóloga moçambicana Tassiana Tomé.
Na nota introdutória ao tema da sessão, Tassiana Tomé escreve:
“As feridas humanas, sociais e ecológicas são sempre feridas relacionais. A nossa relação connosco próprios, com o outro, com a comunidade, com a biodiversidade e com a Terra foi sendo precarizada, quebrada, desgastada, fragmentada, antagonizada, hierarquizada e corroída pelo modelo político-económico e de vida moderno/colonial – neo-liberal, no qual todos nós participamos. Com a pandemia da Covid-19, vivenciamos não apenas uma crise de saúde pública a nível global, mas sobretudo o agudizar de uma crise civilizatória, marcada pela destruição ecológica, pela contínua violência baseada no género e no racismo, pela eclosão de novos conflitos armados e uma precarização da vida no planeta. Falar de “Cura” neste sentido, é pretender ir além do sentido médico moderno de saúde, e entender que as várias dimensões de sofrimento humano e as actuais crises político-sociais, económicas e ecológicas estão profundamente interconectadas.
Alguns sinónimos de curar são: recuperar, reparar, restabelecer, cuidar. Abrir “Caminhos para Políticas Curativas” parte da necessidade de recuperar, reparar, restabelecer e cuidar das relações entre pessoas, comunidades, sociedades, da nossa pluralidade cultural e biodiversidade. Cuidar da Terra como organismo ao qual pertencemos numa teia de complexas relações de interdependência, compartilhada com outros seres.
Iniciar esta conversa sobre Políticas Curativas no contexto Africano, é um exercício de reconhecer e sentir as feridas inter-geracionais, individuais e colectivas e colher nas nossas histórias e presentes, experiências e sistemas de conhecimento e valores que nos permitirão sonhar e imaginar formas de organizar as nossas sociedades tendo no centro a cura e o cuidado como fundamentos cruciais para o (re)florescimento das sociedades africanas e do planeta. Iniciar a conversa sobre Políticas Curativas exige repensar e descolonizar o modelo democrático liberal e demanda transformações profundas no formato das lideranças, da participação e mobilização social, no modelo económico extractivista e (neo)colonial.
Demanda repensar e descolonizar os modelos educacionais e de saúde olhando para a qualidade das múltiplas relações que estabelecemos entre nós e com a Terra. Sobretudo falar de “Cura” e de políticas curativas é exercer a nossa agência como curadores-criadores. Esta sessão convida-nos a iniciar este exercício através de uma conversa intercultural e interdisciplinar, trazendo perspectivas sobre o papel da arte e da ficção, da biologia e fisiologia humana, assim como papel de experiências dos movimentos africanos de libertação e sistemas éticos ancestrais como “Ubuntu” na abertura de caminhos para políticas curativas na cura-e-criação de novas possibilidades de maior bem-estar e justiça social”.
Esta sessão tem como oradores convidados Patrice Naiambana (Serra Leoa), Anyieth Akwool (Sudão do Sul) , Alyne Costa (Brasil) e Ruth Castelo Branco (Moçambique/África do Sul).