Radio Garden: escutar o Planeta em tempo real
O projecto foi desenvolvido pelo Netherlands Institute for Sound and Vision, em colaboração com as empresas de design Studio Puckey e Moniker, e cruza os sinais das diversas estações de rádio – tanto as “tradicionais” como as online – com a informação fornecida pelos inúmeros satélites em órbita de forma a possibilitar o acesso às emissões de rádio em qualquer ponto do planeta.
A forma como o globo terrestre está representado (sem definição de fronteiras entre países) foi deliberada. De acordo com Jonathan Puckey, do Studio Puckey, pretende-se passar não apenas a ideia de que “a rádio não conhece fronteiras” mas sobretudo de que vivemos num mundo “único e interligado”. Além do mais, acrescenta, “tanto é possível ouvir uma rádio em língua etíope a emitir do meio do Kansas, nos Estados Unidos, como uma rádio americana a emitir a partir da Coreia do Sul”.
O projecto apresenta ainda, no entanto, algumas limitações pois certos continentes (como a Ásia ou África) não estão “representados” de forma tão completa como outros. Segundo Jonathan Puckey isso deve-se, em parte, a questões técnicas já que na Ásia, por exemplo, muitas estações de rádio usam tecnologias de streaming proprietárias que não são suportadas pelos web browsers e, em África, as limitações existentes no domínio de infra-estruturas em Banda Larga condicionou, também, a selecção das estações emissoras.
Outra limitação, mais fácil de ir progressivamente eliminando, é de natureza cultural e tem a ver com a capacidade de conseguir “decifrar” com rigor a natureza e o tipo dos conteúdos emitidos. Isto é relevante porque ao navegar em Radio Garden é também possível- para além de ouvir as rádios – aceder a vários outros tipos de informação. Mas Puckey está confiante de que, com a divulgação do projecto, as barreiras linguísticas irão sendo “contornadas” de modo a permitir que o “mapa global” se torne efectivamente…global.
As primeiras reacções ao projecto Radio Garden tornam claro, porém, que mais do que a sua dimensão técnica e conceptualmente inovadora o que o projecto verdadeiramente estimula é uma outra visão da Humanidade. Houve mesmo quem, a propósito de Radio Garden, tivesse evocado a gravação de Golden Record, uma compilação de sons (músicas, leituras de textos em múltiplas línguas, etc.) que foi feita na década de 70, do século XX, e enviada para o espaço na perspectiva de permitir a uma civilização extraterrestre (caso exista e eventualmente possa captar esses sons) tomar conhecimento da existência de um planeta chamado Terra e dos seres que nele habitam (refira-se, a propósito, que uma edição de Golden Record foi agora, pela primeira vez, publicada pois até aqui só a NASA possui cópias do material enviado na sondas Voyager).
Na altura, Timothy Ferris, que esteve ligado a este projecto, escreveu um texto, na colectânea publicada para celebrar o lançamento de Golden Record, intitulado “Murmurs of the Earth”. Mais de quarenta anos depois, Radio Garden parece evocar esse título pois é de um verdadeiro “murmúrio da Terra” a impressão que fica quando se navega por este “Jardim da Rádio”.