Porque se defende a inovação e se rejeita a criatividade?
De acordo com a autora, o problema começa logo na escola. Em numerosos estudos realizados, os professores afirmam, de forma unânime, que a criatividade é um factor importante mas, simultaneamente, associam essa “criatividade” a comportamentos “disruptivos” e “problemáticos” por parte dos alunos. Logo, comportamentos a evitar.
Não surpreende, por isso, que alguns estudos sublinhem a cada vez menor motivação da geração dos “millennials” para se empenharem na elaboração de “ideias criativas” e a sua crescente ansiedade em, caso as desenvolvam, a pô-las em prática.
Por outro lado, estes estudos tem evidenciado também que para muitos educadores, a “criatividade” é algo que está sistematicamente associado ao domínio das artes o que faz com que ela seja de alguma forma “desqualificada” e quase excluída, por exemplo, em áreas cientificas.
Robin Rhodes
De forma porventura surpreendente, este padrão prevalece também em muitos sectores do mundo empresarial. Num estudo recente feito pela IBM, no qual se pede aos executivos que nomeiem a caracteristica que mais valorizam nas equipas que lideram, a resposta é, de forma previsivel, a “criatividade”. Mas uma percentagem significativa (50%) destes mesmos executivos reconhecem não se sentir preparados ou capazes de abraçar e implementar “soluções criativas”.
Jennifer Mueller sublinha que este dado tem sido confirmado por inúmeros outros estudos que mostram como as “ideias criativas” são sistematicamente rejeitadas (mesmo em empresas que afirmam depender da “inovação”).
Aman Ravi
Uma das explicações para esta realidade prende-se, de acordo com Jennifer Mueller, com o facto de, nas sociedades contemporâneas. as pessoas estarem sujeitas a um fluxo constante e esmagador de informação e estímulos.
Perante a incapacidade de lidar com este fluxo – e com a complexidade que lhe é inerente – os indivíduos tendem a optar por fazer “escolhas simples”, buscando rapidamente a resposta “correcta” para um problema. Mas a “resposta correcta” raramente é uma resposta “criativa”. Uma resposta correcta é aquela que está de acordo com o paradigma dominante. Ora as “ideias criativas” são, precisamente, aquelas que rompem com os paradigmas estabelecidos.
No entanto, e como a investigação de Jennifer Mueller demonstra, a maior parte das pessoas, face à complexidade de um problema, não apenas tende a optar pela “resposta correcta” como desenvolve, com o passar do tempo, sentimentos negativos em relação à “criatividade” (que é vista como uma “ameaça”).
Em contextos marcados por grandes incertezas – como aquele que o mundo actualmente vive – os individuos tendem a “fechar-se” sobre o que “conhecem” (e lhes oferece mais seguranças e garantias) e a rejeitar toda e qualquer “inovação” por ser potencialmente disruptiva do status quo e, logo, comportar uma dimensão desconhecida e, possivelmente, ameaçadora. O dilema que se coloca, porém, é que é precisamente nestes contextos que a “inovação” e a “criatividade” são mais necessárias para dar respostas capazes de mudar os “paradigmas” existentes e encontrar “soluções criativas”. Algo sobre o qual a autora também reflecte e merece, por isso, uma leitura atenta.
(foto de topo de página: Edu Lauton)