``Objectos-mundo: entre a planetarização e a cosmopolítica``: a intervenção de Manuel Bogalheiro na conferência do MFF 2021
Professor na Faculdade de Comunicação, Artes, Arquitectura e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona do Porto, em Portugal, Manuel Bogalheiro é orador convidado da sessão “Regresso ao Futuro”, incluída na conferência do MFF 2021, sessão que terá lugar a 25 de Outubro, pelas 18h, na Fundação Fernando Leite Couto, em Maputo, e online.
Na nota introdutória à sua apresentação, Manuel Bogalheiro escreve:
“Das redes cibernéticas à ameaça nuclear, da velocidade subliminar dos canais das finanças globais ao somatório de todas as máquinas de produção em massa, a contemporaneidade que surge a partir da segunda metade do século XX é indissociável de uma mobilização planetária atravessada por objectos-mundo, isto é, objectos ou fenómenos humanamente produzidos cujos efeitos são globalmente distribuídos e de difícil circunscrição e controlo.
Independentemente da sua natureza ou do seu formato, estamos perante hiper-objectos cujo o excesso, a entropia e a incomensurabilidade, tanto a nível da sua escala espacial, como da sua escala temporal ao nível do impacto futuro, ultrapassam as esferas locais em que são produzidos, as agendas económicas que os gerem, os Estados-Nação implicados ou a fenomenologia directa dos humanos.
No seu excesso, estes objectos produzidos por determinadas secções da actividade humana, ainda que tendam a uma certa invisibilidade, passam a implicar a Humanidade no seu todo, independentemente das fronteiras geopolíticas, assim como todas as formas de vida que constituem o ecossistema terreste. Uma certa noção do local entra em crise, a qual se confronta com a necessidade de uma gestão comum de problemas e de estratégias globais, em tempos de múltiplas crises, das ecológicas às humanitárias.
É no quadro desta condição planetária – que ultrapassa a categoria da globalização enquanto programa económico – que, politicamente, o problema mais radical já não será o de pensar sobre como é que nos fundamos numa certa ideia de identidade – de positivo e negativo, numa lógica binária que historicamente é marcada por questões de género, etnia e classe –, mas o de pensar como é que nos articulamos numa certa ideia de totalidade. Esta totalidade não visa um universalismo homogeneizante e humano-centrado, mas uma perspectiva integradora de múltiplos modos de agenciamento – humanos, naturais ou técnicos – a partir da qual se pode fundar uma cosmopolítica da coexistência, da complexidade e da especificidade”.
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