``O Século da Solidão`` de Noreena Hertz: permanentemente conectados e eternamente sós
A solidão tornou-se a característica definidora do século XXI. Mesmo antes da pandemia mundial – que nos confinou às nossas casas, nos isolou de amigos e familiares, nos privou das rotinas sociais e nos familiarizou com expressões como «distanciamento social» e «teletrabalho» – já vivíamos num mundo predominantemente solitário.
Três em cada cinco adultos dos EUA já se consideravam pessoas sós, e mais do que um em cada cinco millennials afirmava não ter qualquer amigo. Na Alemanha, dois terços da população achava que a solidão era um problema grave; quase um terço dos neerlandeses e um quarto da população sueca admitia sentir-se só; e no Reino Unido o problema era tão grave que em 2018 o primeiro-ministro nomeou um ministro da Solidão. «Os dados referentes à Ásia, Austrália, América do Sul e África eram similarmente perturbadores. (…) Novos e velhos, homens e mulheres, solteiros e casados, ricos e pobres. Em todo o mundo as pessoas sentem-se sós, desligadas e alienadas. Estamos em plena crise global de solidão.»
No livro “O Século da Solidão”, que a editora Temas & Debates acaba de publicar, Noreena Hertz, economista e ensaísta considerada uma «das principais pensadoras globais» pelo jornal britâncico The Observer, dá-nos um retrato desassombrado do mundo solitário que construímos e mostra-nos como a Covid-19 acelerou o problema da solidão e o que precisamos de fazer para nos religarmos.
Nunca como agora foi a solidão tão generalizada, mas também nunca dispusemos de tantos meios para lidar com ela. Com base em anos de pesquisa, vários estudos, entrevistas e exemplos concretos, a autora explora como a nossa crescente dependência da tecnologia, o desmantelamento das instituições cívicas, a reorganização radical dos espaços de trabalho, a migração maciça para as cidades, e décadas de políticas neoliberais, que puseram o interesse próprio acima do bem coletivo, nos estão a tornar mais isolados do que nunca.