O ``gravador molecular``: cientistas inserem filme no ADN de uma bactéria viva
Mas, segundo o principal autor do estudo, Seth Shipman, a ideia não é criar uma espécie de dispositivo “USB biológico” para guardar filmes e arquivos, mas sim desenvolver um “gravador biológico” para monitorizar células ou modificações no ambiente, para que um cientista não tenha de “alterar” o sistema quando pretende recolher dados.
A ideia é “programar” bactérias como equipamentos de gravação para que elas viajem pelo sangue e armazenem informações por um tempo. Depois disso, os cientistas poderiam extraí-las e examinar seu ADN para ver o que elas “anotaram”. É como se esses organismos fizessem um filme dos processos biológicos do corpo.
Como escreve Andrea Cunha Freitas em artigo no jornal “Público”, “apesar de surpreendente, a introdução de informação no ADN não é um feito inédito. Os organismos vivos fazem-no desde sempre de forma natural, quando, por exemplo, “arquivam” a informação sobre os vírus que os invadem permitindo que essa “memória” os proteja num próximo confronto. Mas, além deste processo natural, também já foram feitas algumas experiências “artificiais”. Os cientistas rapidamente perceberam que o ADN é um meio excepcional para armazenar a informação.”
Assim, “nos últimos anos, os cientistas têm explorado e testado o potencial deste meio de armazenagem de informação. Já conseguiram, por exemplo, introduzir no ADN um livro inteiro, os sonetos de Shakespeare, um excerto do discurso “I Have a Dream” de Martin Luther King, um artigo científico, um filme mudo, fotografias e até um vale da Amazon. Estas experiências foram feitas, em laboratório, com pedaços de ADN em tubos de ensaio. Mas também já se conseguiu escrever informações nos genomas de células vivas. Foi inserida uma frase da bíblia num micróbio, as letras de uma canção e a famosa equação de Einstein (E=mc2) em bactérias e até já foi produzido um genoma sintético de uma bactéria, criado no laboratório do famoso geneticista Craig Venter, no qual foram inseridos os nomes dos elementos da equipa de investigadores”.
No futuro, a equipa de Harvard quer usar esta técnica para criar “gravadores moleculares”. Seth Shipman, em declarações à BBC, diz que estas células poderão “codificar informações sobre o que está acontecendo na célula e no ambiente celular ao escrever essa informação em seu próprio genoma”.
É por isso que os pesquisadores usaram imagens e um vídeo: imagens, porque elas representam o tipo de informação complexa que a equipa gostaria de usar no futuro, e o vídeo por causa do componente rítmico.
O ritmo é importante porque será útil acompanhar as mudanças em uma célula e em seu ambiente com o passar do tempo.
Talvez no futuro seja possível extrair bactérias e ver o que deu errado no corpo quando ficarmos doentes – como acontece com a caixa-preta de um avião que teve um acidente.