O futuro do cinema: Netflix ameaça Hollywood
De facto, o ano de 2016 trouxe à Netflix mais 7.05 milhões de assinantes. Isto num ano em que o seu serviço de streaming chegou a 190 países (sendo que 47% das suas receitas já provêm do mercado internacional). As vendas também aumentaram (36%) e a cotação em bolsa atingiu um novo pico (com uma subida de oito pontos percentuais) atirando o valor actual da Netflix para os 60 milhões de dólares.
Segundo os analistas, estes resultados são, em larga medida, resultado do investimento que a empresa tem feito na produção de conteúdos (5 biliões de dólares em 2016). Séries como “House of Cards” e “Orange is the New Black” foram vistas inicialmente por Hollywood como sucessos “ocasionais” e ”irrepetíveis”. Mas com o bom acolhimento das séries “Luke Cage”, “Stranger Things” e “The OA” ficou claro que a Netflix estava a consolidar uma posição enquanto produtora de conteúdos ameaçando directamente o domínio os estúdios de Hollywood (não terá sido, aliás, por acaso, que as longas metragens indicadas pela Netflix como candidatas aos Oscares foram excluídas pela Academia de Hollywood). Para 2017, a Netflix tem previsto um investimento de 6 biliões de dólares em novos conteúdos duplicando a oferta da sua programação.
Mas Hollywood tem mais razões para se sentir inquieta. Sean Parker, lendário fundador do site Napster, anunciou recentemente o projecto “The Screening Room” que tem como objectivo permitir que os consumidores possam assistir em suas casas à estreia de filmes (em simultâneo com a sua saída nas salas de cinema). E Sean Parker já tem, a seu lado, realizadores como Steven Spielberg, Martin Scorsese, Peter Jackson, J.J. Abrams e Ron Howard.
Como funciona o “The Screening Room”? Bastará comprar uma box, através da qual o utilizador acede ao serviço, podendo “alugar” o filme pretendido por um determinado período de tempo. Este modelo, afectando directamente as receitas de bilheteira dos cinemas (e, por tabela, toda a cadeia de valor a montante) já foi contestado por alguns estúdios e distribuidores (e mesmo por realizadores como James Cameron ou Christopher Nolan que temem que, a ser bem sucedido, este projecto irá comprometer definitivamente a “experiência única e insubstituível” de ver filmes numa sala de cinema). Não é certo que “The Screening Room” venha a vingar, até porque os estúdios pretendem continuar a ser eles a determinar o ciclo de lançamento dos filmes (salas, dvd’s, etc.). Mas face aos interesses e movimentações dos múltiplos actores que estão hoje no terreno da produção e distribuição de conteúdos audiovisuais (operadores de telecomunicações, empresas tecnológicas, televisões, etc.) é cedo ainda para antecipar o destino de “The Screening Room”.