O acontecimento cultural do ano: a abertura do Zeitz Museum of Contemporary Art Africa
Bastaram poucos minutos para que os 24 mil bilhetes para a inauguração tivessem sido vendidos. Os convidados para o evento de abertura virão dos quatro cantos do Planeta e alguma imprensa internacional descreve o museu como o equivalente do Tate Modern (Reino Unido) em África.
Para Kudzanai Chiurai, um artista do Zimbabwe cujas obras estão incluídas numa das exposições do programa de abertura, a importância deste novo museu não oferece dúvidas. Citado pelo jornal “The Guardian”, Kudzanai Chiurai acredita que o impacto deste museu será duradouro e se estenderá muito para além do seu tempo de vida: “será algo que irá perdurar pelos próximos 200 ou 300 anos”.
Kudzanai Chiurai (um dos artistas incluidos na exposição inaugural)
O projecto do museu levou nove anos a desenvolver, representa um investimento de 38 milhões de dólares (de fundos privados) e irá albergar a colecção de arte de Jochen Zeitz. Para além dos espaços de exposição (para a colecção permanente e as exposições temporárias), o edifício irá dispor de restaurantes, lojas e um hotel de luxo (nos últimos andares).
A abertura do Zeitz Museum of Contemporary Art Africa (MOCAA) ocorre numa altura em que a arte contemporânea de África está no centro das atenções mundiais. Como escrevia, recentemente, a revista “Economist”: “Antes da Primeira Guerra Mundial, os artistas mais interessantes eram os franceses; na década de 90 eram os chineses; agora o sítio mais interesse em termos de arte contemporânea é África”.
Mas o novo museu tem suscitado tem também alguma controvérsia, senão mesmo hostilidade. Para alguns, o museu está concebido de acordo com uma lógica que tem mais a ver com a Europa do que com África e acusam-no de ser um projecto elitista.
Por outro lado, a situação política na África do Sul é bastante tensa e as actividades culturais são, muitas vezes, vistas como uma ameaça ao poder instituído. Basta lembrar a queixa apresentada em tribunal, em 2012, pelo presidente Jacob Zuma contra uma galeria de arte em que tinha sido exibida uma obra que o retratava numa pose com semelhanças a Lenine.
Ou a recente posição assumida por Herman Mashaba, presidente da Camâra de Joanesburgo, que quer limpar todos grafittis e pinturas murais na cidade sendo que, para muitos, estas intervenções são vistas como uma das mais expressivas manifestações da arte contemporânea actual.
Mark Coetzee, director do museu, recusa as acusações de elitismo e sublinha o papel que o museu irá ter enquanto espaço de debate – debate esse que inclui a comunidade artistica – e onde esse debate será possível fazer “sem que as pessoas se matem umas às outras”.