New Narratives: da imersão no futuro até o infinito

A 8ª edição do MFF vai ser recordado também pela presença da tecnologia na construção de narrativas do futuro. Um futuro, diga-se, visto de óculos digitais para uma realidade virtual, recriando lugares, construindo “novas narrativas” sobre a natureza e o homem.

No 7º e 13º andar da JFS Tower, esse edifício que passou a fazer parte do roteiro dos citadinos de Maputo provenientes de várias partes do mundo, estavam instaladas oito mostras que tinham duas premissas: as novas tecnologias e novas narrativas. 

São essas instalações, “Benga”, de Adamo Morrumbe, resultado da pesquisa “Benga, a aldeia do futuro” financiada pelo MFF Academy; “Container” de Simon e Meghna; “Ferenj” de Ainslee Robson; “Objectos do Infinitos” de Michel Onésio; “Narrativas de Cura” de Karingana Wa Karingama Textil; “Estruturas ressonantes” de Bhavisha Panchia e Ângela Ferreira; “Midi Mbira” de Guillermo de LIera Blanes e “Mganga Wa Kitui” de Walid Kilonzi

A pesquisa de Adamo Morrumbe, que é arquitecto, reflecte a experiência do autor em Benga, distrito de Moatize, província de Tete e traz duas dimensões. A primeira de carácter científico, com apresentação de dados, criação de relações com outros estudos, explicação e mostra de padrões. A segunda é a instalação que apresenta obras que aproximem à aldeia de destaque, Benga. 

Benga é faz pensar “como um espaço tão pequeno”, pode espelhar o futuro, uma espécie de reconciliação entre o homem e a natureza, sem que o primeiro explore o outro. Essa seria também uma resposta a crises ecológica. 

“Vários estudos demonstram que o mais provável é que, a continuarmos assim, não teremos uma terra para onde viver, pelo menos com condições para nós continuarmos a existir nela”, alerta, entendendo que a urgência em buscar novas maneiras de ser e estar no planeta terra, a começar pelo lugar onde nos encontramos.

 

Objectos do Infinito 

Na exposição “Objectos do Infinito” de o artista plástico Michel Onésio, trouxe uma paleta de cores diferentes, onde explora uma dimensão da arte com expressão de uso de materiais diversificados, atentos em preencher espaços vazios.

São telas na parede, grafite e um manifesto, incluindo uma obra produzida por cima de uma cortina, utilizando sempre materiais locais e reciclados. 

“Temos um fenómeno muito raro que acontece em lugares específicos do mundo, chama-se Northern Light. São cores espalhadas no céu. Em Moçambique nós não temos essa oportunidade de ver e também achei interessante pensar isto nas minhas obras. Elas foram criadas muito antes de sabermos que este fenómeno ia acontecer este ano. Então, vejo essa união da minha pessoa com o universo a conversar comigo e a trazer esta experiência que é ver Northen Light em Moçambique”, conta Michel Onésio.

 

Experiências sensoriais

 

Em “Estruturas Ressonantes” exposição de Bhavisha Panchia e Ângela Ferreira, uma escuta alargada da Rádio Moçambique esteve em exibição, num primeiro momento a estação como arquivo e no segundo como corpo ressonante que guarda legados culturais, políticos e criativos. 

Guillermo de LIera Blanes, na mesma senda, trouxe “Midi Mbira: Hybrid Hyper Instrument”, baseado no Midi Mbira, um instrumento desenvolvido por si, em colaboração com May Mbira. O objectivo é criar novas vias de expressão que respeitem as tocabilidades e identidades tradicionais. 

Das exposições interativas, fez parte “Narrativas de Cura” de Karingana Wa Karingama Textil, que tece as histórias de cura de Cabo Delgado e que carregam as formas de como a arte pode servir de ferramenta de expressão, resiliência e cura comunitária. Foi possível ainda, em “Narrativas de Cura” um envolvimento, além da observação, o olfato, som e paladar.

“São exposições individuais, mas de certa forma relacionadas entre elas. Temos apresentações nacionais e internacionais, mas essencialmente temos um grupo de exposições que anda a volta de utilização de novos media como formas de contar estórias de forma imersiva”, disse João Roxo, co-curador do MFF.

Artigo por

Júlio Magalo

Novembro 4, 2024

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