Moçambique: olhares cruzados
Uma das particularidades mais interessantes deste livro reside no facto de Ben Krewinkel ter recuperado o trabalho de um outro fotógrafo holandês, Frits Eisenloeffel (1994-2001), que teve a oportunidade de captar com a sua câmara a vida em Moçambique no período imediatamente a seguir à independência, e justapô-lo à sua própria observação do país feita apenas há três anos atrás.
As fotografias de ambos, colocadas lado a lado, permitem assim um olhar cruzado entre o registo épico e eufórico feito por Eisenloeffel e a perspectiva desencantada de Krewinkel em que predominam os temas que marcam a contemporaneidade de Moçambique: a pobreza, a emigração, a presença chinesa, a guerra, etc. Não se trata, porém, de um “retrato” jornalístico, construído numa lógica de “conflito”, mas antes de olhar centrado nas pessoas e, nessa perspectiva, profundamente humano.
No vaivém que se estabelece entre as imagens dos dois fotógrafos pairam interrogações silenciosas a que só o futuro poderá dar resposta.