Cerca de 40 mil páginas de antigos manuscritos da cidade de Timbuktu, ameaçados em 2012 pelo conflito no norte do Mali, foram digitalizados e estão a partir de agora disponíveis na Internet.
Em 2012, com a chegada ao norte do Mali do grupo islamita Ansar Dine, que destruiu templos locais classificados como património mundial e queimou manuscritos antigos, o diretor da biblioteca privada Mamma Haidara Memorial Library, Abdel Kader Haidara, com a ajuda de membros da comunidade, passou meses a catalogar manuscritos durante a noite e a armazená-los em mais de mil caixas metálicas que conseguiu retirar da cidade.
Segundo diz o próprio no vídeo, essa missão permitiu salvar 95% dos manuscritos da cidade de Timbuktu.
Ao abrigo do projeto com a Google Arts & Culture, Haidara traduziu e curou mais de 40 mil páginas dos manuscritos, que estão agora `online`.
“Durante anos dizia-se que a África não tinha história escrita, dizia-se que toda a história era oral. Por isso hoje temos orgulho em dizer que há mais de 400 mil manuscritos que datam desde o século XI ao século XX, escritos unicamente pelas mãos de africanos. Quem é que pode ver isto e dizer o contrário?“, questiona Haidara no vídeo.
Haidara, que herdou do pai a missão de proteger os manuscritos, diz que já teve ofertas para os vender ou enviar para o estrangeiro, mas rejeitou sempre.
Os documentos, disse Haidara ao website The Africa Report, “vão permitir que gerações retornem à sua herança e aprendam algo“.
“É por isso que penso que é melhor que fiquem aqui no Mali“, acrescentou.
A preservação e digitalização dos manuscritos envolve centenas de mulheres e jovens no Mali, que trabalham com a SAVAMA-DCI, cuja missão é “a preservação e valorização dos manuscritos árabes de Timbuktu que constituem o património cultural islâmico do Mali, a memória coletiva de África e parte do património mundial”.