``Journal Rappé``: um noticiário em forma de rap
O telejornal adopta, visualmente, o modelo tipico de qualquer espaço informativo e a estrutura noticiosa segue também o tipo de “alinhamento” mais comum (política, economia, sociedade, desporto, etc.). Mas toda e qualquer semelhança acaba aqui.
Makhtar “Xuman” Fall e Cheikh “Keyti” Sene lançaram o projecto em 2013 na rede social You Tube. Com uma emissão semanal, o “Journal Rappé” ganhou rapidamente uma audiência fiel e numerosa e é hoje transmitido, todas as sextas feiras, pelo canal de televisão senegalês 2STV.
O carácter inovador do projecto e o seu impacto, desde que surgiu, mereceram, na passada semana, um extenso artigo na prestigiada revista “Columbia Journalism Review”.
O objectivo de Makhtar “Xuman” Fall e Cheikh “Keyti” Sene ao lançarem o projecto era conseguir fazer com que a actualidade informativa, sobretudo política, chegasse a um público jovem cada vez mais desconfiado e alheado do que o jornalismo “convencional” lhe oferece. “O desafio que se nos colocou – dizem – foi ver até que ponto o hip hop e o rap poderiam ir mais longe e ser usados como linguagem privilegiada de comunicação da informação”.
O sucesso do projecto parece comprovar a intuição dos dois rappers senegaleses. Sobretudo porque, fugindo às formulas “politicamente correctas”, o projecto soube trazer o “sentimento e a linguagem da rua” para o interior de um modelo de comuinicação “televisiva” que se parece, cada vez mais, resignado em ser um “produto” comercial mais interessado em “criar uma imagem da realidade” do que em reflectir o que verdadeiramente está a acontecer nas comunidades.
Nenhum tópico tem sido“tabú” e o “Journal Rappé” tem abordado questões “sensíveis” como a religião ou a homossexualidade. Mas é no campo político que a sua intervenção tem tido um impacto maior. Com o apoio da Open Society Foundation, o “Journal Rappé” iniciou uma colaboração regular com rappers da Costa do Marfim, da Mauritânia, Madagascar, Uganda e Jamaica, e existe a perspectiva de, a partir do próximo ano, integrar também músicos do Mali, da Guiné e do Burkina Faso.
Considerando-se “jornartistas” (em vez de jornalistas), a verdade é que Makhtar “Xuman” Fall e Cheikh “Keyti” Sene são, de algum modo, o resultado de movimentos como o “Y’en a Marre”, nascido em 2011, que juntou jornalistas e rappers numa acção contra o então presidente do Senegal (Abdoulaye Wade) e a sua pretensão em alterar a Constituição do país e já inspirou movimentos semelhantes na República Democrática do Congo e no Burkina Faso.
E essa união entre jornalistas e rappers (que os inspirou a fazer o “Journal Rappé”) começa agora a dar os seus frutos pois a comunidade profissional ligada aos media tradicionais – e que inicialmente os olhou com alguma suspeição – tem vindo, progressivamente, a dar o seu apoio ao projecto ajudando na partilha e confirmação de informações.