``Histórias Afro-Atlânticas``: uma mega-exposição no Museu de Arte de São Paulo no Brasil
Inaugurada no final do passado mês de Junho no Museu de Arte de São Paulo (com um pólo no Instituto Tomie Ohtake, que é co-organizador do projecto) a mega-exposição “Histórias Afro-Atlânticas” apresenta uma seleção de 450 trabalhos de 214 artistas, do século 16 ao 21, em torno dos “fluxos e refluxos” entre a África, as Américas, o Caribe, e também a Europa.
A exposição, que tem curadoria de Adriano Pedrosa, Ayrson Heráclito, Hélio Menezes, Lilia Moritz Schwarcz e Tomás Toledo, vai estar aberta ao público até 21 de Outubro.
Em complemento à exposição foi publicado um catálogo de 416 páginas, coordenado por Adriano Pedrosa e Tomás Toledo, e ainda uma antologia de 624 páginas, coordenada por Amanda Carneiro e Andre Mesquita, que inclui os textos apresentados em duas conferências internacionais (em 2016 e 2018) associadas a este projecto expositivo.
Jaime Colson, Merengue, 1937 – Coleção Museo Bellapart (Mariano Hernandez/MASP)
Contextualizando o projecto expositivo “Histórias Afro-Atlânticas”, lê-se no texto introdutório: “O Brasil é um território central nas histórias afro-atlânticas, pois recebeu aproximadamente 46% dos cerca de 11 milhões de africanos e africanas que desembarcaram compulsoriamente neste lado do Atlântico, ao longo de mais de 300 anos.
Também foi o último país a abolir a escravidão mercantil com a Lei Áurea de 1888, que perversamente não previu um projeto de integração social, perpetuando até hoje desigualdades económicas, políticas e raciais. Por outro lado, o protagonismo brasileiro nessas histórias fez com que aqui se desenvolvesse uma rica e profunda presença das culturas africanas.
“Histórias afro-atlânticas” parte do desejo e da necessidade de traçar paralelos, fricções e diálogos entre as culturas visuais dos territórios afro-atlânticos—suas vivências, criações, cultos e filosofias. O Atlântico Negro, na expressão de Paul Gilroy, é uma geografia sem fronteiras precisas, um campo fluído, em que experiências africanas invadem e ocupam outras nações, territórios e culturas.
Carybé, Baianas, 1957 – Coleção Patrício Santana (Divulgação/MASP)
É importante levar em conta a noção plural e polifónica de “histórias”; esse termo que em português (diferentemente do inglês) abrange tanto a ficção como a não ficção, as narrativas pessoais, políticas, económicas, culturais e mitológicas. Nossas histórias possuem uma qualidade processual, aberta e especulativa, em oposição ao carácter mais monolítico e definitivo das narrativas tradicionais.
Nesse sentido, a exposição não se propõe a esgotar um assunto tão extenso e complexo, mas antes a incitar novos debates e questionamentos, para que as histórias afro-atlânticas sejam reconsideradas, revistas e reescritas”.