Uma das figuras em destaque na mais recente edição do festivalDesign Indaba, que teve lugar no final do passado mês de Fevereiro em Cape Town, foi a chef Selassie Atadika.
Por razões políticas, a sua família teve de abandonar o Gana e acabou por fixar-se nos Estados Unidos. Depois de se formar em Relações Internacionais na Universidade de Columbia e em Estudos Ambientais no Dartmouth College, Selassie Atadika começou a trabalhar com a UNICEF e foi durante uma das viagens que teve de efectuar ao Sudão do Sul que teve uma experiência – que ela descreve como uma “epifania culinária” – que a fez mudar, radicalmente, o rumo da sua vida. Ao experimentar a gastronomia local, que a fez recordar os sabores da comida ganesa, descobriu que a sua verdadeira vocação estava na “arte culinária”. O que a levou, no seu regresso aos EUA, a fazer uma formação no Culinary Institute of America.
Mas Selassie Atadika tinha ideias muito próprias de como pretendia desenvolver a sua actividade. Não ambicionava uma carreira convencional de chef ou apenas abrir um restaurante. Queria, sobretudo, explorar o potencial dos ingredientes e das tradições culinárias do continente africano. Daí nasceu o projecto que ela descreve como o de uma “culinária nómada”. Ou seja, um modelo que lhe permite ir desenhando “experiências gastronómicas” em diferentes locais do continente. Foi assim que nasceu, por exemplo, em 2014, o Trio Toque, um restaurante “pop-up” em Dakar, no Senegal.
Mas foi quando voltou ao Gana e criou o projecto Midunu que o seu projecto começou verdadeiramente a ganhar forma. A Midunu é uma plataforma que procura interligar a comida, a cultura e a comunidade local e, simultaneamente, se define também como um “laboratório experimental” para o desenvolvimento de conceitos gastronómicos inovadores baseados nos ingredientes locais. A sua actividade foca-se, sobretudo, na realização de “eventos nómadas”, isto é, refeições que acontecem mensalmente em diferentes sítios da cidade de Accra e são constituídos por um menú que pretende constituir, sempre, uma “experiência única”. Entretanto, o “laboratório” da Midunu começou a explorar o potencial do cacau e das especiarias locais para criar uma série de chocolates. O sucesso da experiência levou Selassie Atadika a criar, entretanto, a Midunu Chocolates.
Finalista, em 2019, do Basque Culinary World Prize e considerada pela EAT Foundation and Culinary Institute of America como uma das 50 chefs mais inovadoras do mundo, Selassie Atadika é bom exemplo de uma nova geração de chefs do continente africano que estão empenhados em promover os sabores de África através de uma “linguagem culinária” capaz de cativar o mercado internacional.