Ideias
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futuro
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Em anos recentes, tem-se assistido, através de múltiplas e variadas manifestações – teóricas, filosóficas, estéticas, económicas, sociais e culturais – à emergência de um “desejo de futuro”, cujo denominador comum passa por uma vontade expressa em conceptualizar novas formulações identitárias, gerar imaginários alternativos e construir narrativas que se destacam pela ruptura que pretendem instituir com os modelos que foram configurados no período pós-independências e parecem esgotados e incapazes de responder às novas realidades contemporâneas.
Existem inúmeros factores históricos que podem ajudar a compreender estas novas aspirações identitárias (falência de opções ideológicas, impactos da globalização, profundas mudanças tecnológicas, alterações demográficas e geracionais, etc.) mas o que importa talvez reter aqui é que, independentemente das diversas abordagens analíticas possíveis, o continente é hoje confrontado com uma pulsão em que, da moda às tecnologias, da literatura ao design, da arquitectura ao empreendedorismo, da música às artes visuais, para referir apenas alguns exemplos, há claramente um vibrante “regresso ao futuro”, isto é, uma inequívoca e inovadora vontade de ir além das convenções existentes e construir narrativas em que o “futuro” é convocado como uma poderosa ferramenta para gerar cenários conceptuais alternativos e afirmar novas dinâmicas identitárias.
As diversas e multifacetadas manifestações estéticas, culturais e artísticas que têm surgido, por exemplo, no âmbito do “afrofuturismo” – apesar da imprecisão conceptual deste “movimento” – sãoeloquentes pela forma como exprimem este “desejo de futuro” e de reconfiguração identitária através da construção de novas narrativas.
Mas traduzem também, de algum modo aquilo que, num outro plano, o pensador camaronês Achille Mbembe vem defendendo sobre a necessidade de África entrar na “conversa global” – a partir de uma redefinição de premissas e conceitos capazes de pensar e articular o “futuro” do continente – e evidenciam como este “regresso ao futuro” se tornou estratégico para a reformulação do “presente”.
É neste contexto que o programa do MFF 2018 se pretende situar. O seu objectivo é contribuir para que produção destas “novas narrativas” – indiferentemente da sua proveniência (artes visuais, design, arquitectura, tecnologia, literatura, etc.) – seja estimulada, exibida e publicamente debatida por forma a que, também em Moçambique, o exercício criativo que “pensar o futuro” convoca se reflita, de modo operativo, na reformulação do presente.
Como é norma do projecto MFF, este “exercício criativo” será feito, simultaneamente, numa perspectiva de “abertura ao mundo”, isto é, num quadro de trocas e diálogo entre os actores da comunidade criativa moçambicana e da comunidade criativa global e, por outro lado, na perspectiva de cruzar conhecimentos e experiências entre as várias disciplinas e áreas criativas envolvidas.