A 19ª edição do festival “Encounters – South African International Documentary Festival”, que ocorreu entre 1 e 11 de Junho passado na Cidade do Cabo, teve a particularidade de incluír uma secção – “Virtual Encounters” – dedicada exclusivamente a documentários que usaram no seu processo criativo a tecnologia da Realidade Virtual e do video 360º.

Os organizadores desta secção – a “Electric South”, uma organização sem fins lucrativos que tem apostado no financiamento, produção e distribuição de trabalhos suportados por estas tecnologias – acreditam que o potencial destes novos media, embora ainda pouco explorados no continente africano, começa, no entanto, a ser descoberto por alguns realizadores como uma ferramenta poderosa capaz de gerar novas abordagens narrativas.

Confirmando esta percepção, quatro obras mereceram um especial destaque no programa da secção “Virtual Encounters”: “Let This Be A Warning” produzida pelo “The Nest Collective”, “The Other Dakar” realizado por Selly Rabe Kane, “Nairobi Berries” de Ng’endo Mukii e  “Spirit Robot” de Jonathan Dotse.

 

 

Enquanto “Let This Be A Warning” recorre à matriz clássica dos filmes de ficção científica para narrar a história de um viajante branco que aterra num planeta inteiramente colonizado por uma população negra e, desta forma, explorar uma temática com dimensões sociais e políticas evidentes, e “Spirit Robot”  – que documenta o “Chale Wote Street Art Festival” que se realiza, anualmente, em Accra, no Gana – investe numa critica à falta de infra-estruturas culturais neste país, já as outras duas obras apostam numa linguagem mais poética e onírica. O filme de Selly Rabe Kane – uma estilista de moda que tem ganho, em anos recentes, uma visibilidade internacional digan de nota – é, neste particular, um exercício formal de grande intensidade que procura tirar o máximo proveito do potencial que estas novas tecnologias encerram.

 

“Nairobi Berries” (Ng’endo Mukii)

 

Há sinais encorajadores, portanto, de que na edição do próximo ano destes “Virtual Encounters” , possamos vir a assistir a um maior número de obras explorando estas novas tecnologias.

(imagem de topo da página: “The Other Dakar” de Selly Rabe Kane)