No meio ao crescimento de uso de tecnologias e do negócio digital impulsionado pela pandemia, a editora moçambicana Ethale Publishing acaba de lançar o aplicativo Ethale Books para disponibilizar livros e áudio-livros africanos publicados e traduzidos em língua portuguesa.
A novidade chega agora para os leitores e ouvintes – estes novos leitores estão cada vez mais a crescer na literatura, num país de tradição oral -, mas desde 2016 que a ideia do aplicativo vem sendo consolidada, tendo passado por uma apresentação numa feira de livro em Berlim, em 2017 para “colher subsídios”. O director da Ethale Publishing, Jessemusse Cacinda, explica que dois anos depois da ideia ter surgido, beneficiou de um financiamento da Milles Morland Foundation.
O aplicativo pode ser acedido via Play Store e conta com algumas obras literárias já publicadas pela Ethale Publishing nos diversos géneros, sobretudo narrativas de autores moçambicanos e clássicos africanos traduzidos e publicados pela editora, como Matigari, de Ngugi wa Thiong’o e A Greve dos Mendigos, de Aminata Sow Fall.
A ideia é que mais obras integrem a plataforma, sempre na linha de narrativas africanas. “O aplicativo está aberto para qualquer editora ou autor independente que queira publicar”, conta Jessemusse Cacinda que coloca a fasquia nos 200 títulos a serem disponibilizados para o público até finais de 2022, em que se espera o acesso de cerca de mil usuários. “Até o momento temos 100 utilizadores”.
Esta solução inovadora da Ethale Publishing surge num contexto desafiador para a indústria do livro em Moçambique. Por um lado há o aumento nas publicações literárias com surgimento de editoras independentes e com aposta em livros digitais, mas a resposta dos consumidores não tem estado nos níveis desejados no que diz respeito a compra de livros. Talvez por isso a aposta em transformar o texto escrito em áudio, uma nova aposta da editora, parte integrante dos conteúdos do aplicativo.
Como em todo mundo, entretanto, o diálogo entre o digital e o físico tem sido controverso, assistindo-se ao encerramento de livrarias, quase se colocando em causa a viabilidade do negócio de livros. Ora, a Ethale Publishing que a par do aplicativo que agora lança, tem uma livraria na cidade de Maputo. Jessemusse Cacinda reflecte sobre o assunto e não entende as soluções digitais como uma “salvação”. “A indústria do livro precisa de tudo. Tanto os livros em formato físico como os livros em formato digital. Precisamos de continuar a desenvolver programas de formação de leitores”.
Eduardo Quive