Estudos identificam desafios das indústrias culturais e criativas em África no pós-pandemia
Ribio Nzeza Bunketi Buse, professor na Universidade Católica do Congo e na Universidade Kinshasa (RDC), publicou recentemente na revista da Arts Management Network uma análise comparativa dos diversos estudos realizados sobre o impacto económico da pandemia do Covid-19 no sector das indústrias culturais e criativas em África.
A análise baseia-se numa série de inquéritos que foram feitos no período entre Março e Maio de 2020 e permitem não apenas avaliar o impacto devastador da pandemia no sector como a diversidade das soluções que foram ensaiadas para mitigar os seus efeitos. No entanto, o dado mais interessante prende-se, sobretudo, como o facto da pandemia ter exposto, sem ambiguidades, as debilidades existentes as quais precedem a eclosão da pandemia.
Assim, e depois de analisar os estudos realizados em todo o continente, Ribio Nzeza Bunketi Buse identifica alguns dos traços que caracterizam o sector e que tornam a sua recuperação no período pós-pandemia particularmente complexa. Destaca-se, em particular:
– O predomínio do sector informal (53.3% no Senegal; 51.7% na Namibia, 80% no Quénia, para citar apenas alguns exemplos)
– A existência de um alto número de free-lancers os quais têm uma muito limitada capacidade de resistir e sobreviver a um evento disruptivo (só no Uganda 700 artistas foram afectados pelo cancelamento de 3 mil eventos)
– A pequena dimensão das “empresas culturais” (companhias de teatro, produtoras audiovisuais, etc.) cujo número não ultrapassa, em média, as 10 pessoas
– A estrutura destas empresas assenta, na sua maioria, em vinculos contratuais precários ou utilização de colaboradores em part-time
Se atendermos ainda que o números de instituições e organizações culturais apoiadas pelos Estados e Governos é residual e que o sector privado tende, em momentos de crise económica, a cortar nos patrocínios atribuídos, os desafios que se colocam, no curto e médio prazo, serão certamente de monta.
Para Ribio Nzeza Bunketi Buse esta poderá ser também, no entanto, uma oportunidade para o sector re-pensar os seus modelos de funcionamento e de monetização das suas actividades