Escritas algorítmicas: autor canadiano explora colaboração com programa de Inteligência Artificial em contos de ficção científica
Stephen Marche é um escritor canadiano com obra publicada e reconhecida, dedicando uma boa parte do seu trabalho à escrita de artigos e histórias para publicações como a Esquire, a L.A. Review of Books, a Wired, o Guardian e o New York Times, entre muitas outras publicações internacionais.
Atento aos desenvolvimentos computacionais mais recentes, nomeadamente no domínio da Inteligência Artificial (IA), resolveu criar uma história de ficção científica com a ajuda de um desses programas de IA.
A história, intitulada “Twinkle Twinkle”, foi publicada na revista Wired , na sua edição de Dezembro de 2017, acompanhada por um texto em que Stephen Marche explicava o processo como tinha decorrido a produção desse texto.
Agora, três anos depois, baseado na experiência então adquirida, volta a publicar uma ficção – “Krishna and Arjuna” – na qual aprofunda essa relação criativa no domínio da “escrita algoritmica”.
A produção de “Twinkle Twinkle” foi feita em colaboração com Adam Hammond, investigador da Universidade de Toronto (Canadá) na área das “Humanidades Digitais”, e Julian Brooke também investigador da Universidade de Toronto na área das Ciências da Computação, que tinham criado um programa chamado SciFiQ
Marche começou por seleccionar 50 contos de alguns dos autores mais importantes no domínio da ficção científica (Ursula K. LeGuin, Philip K. Dick, Ray Bradbury, etc.) o que permitiu ao programa de IA identificar estruturas e estilos e, a partir daí, usando técnicas de machine learning, como o topic modelling, sugerir e guiar o escritor no seu processo de escrita. Podemos, aliás, acompanhar essa interacção de forma directa pois o texto publicado na “Wired” inclui barras laterais na qual Marche vai anotando comentários sobre os inputs dados pelo programa durante o processo de escrita.
Ao contrário de outras experiências já realizadas, o objectivo deste projecto, que se assume como um “trabalho de investigação académica”, não é explorar a possibilidade de programas de IA virem a ser “autores” literários autónomos mas ver como, a partir da análise das estruturas ficcionais existentes, estes programas poderão, ou não, identificar e propôr linhas narrativas ou sugerir desenvolvimentos no argumento de uma história que não eram “evidentes” ao próprio escritor.
Numa entrevista à CBC (Canadian Broadcasting Corporation), Stephen Marche refere que o que achou mais interessante neste projecto foi o facto de que o programa de IA lhe ter permitido escrever uma ficção que não se assemelha a nada que ele teria “espontaneamente” escrito. Alguns editores que leram o manuscrito de “Krishna and Arjuna”, sem saber do processo envolvido na sua escrita, apreciaram o conto e mostraram-se até interessados em publicá-lo.
Em texto recente publicado na “Techonology Review”, Marche explica de forma detalhada como foi o processo de escrita de “Krishna and Arjuna” e as opções estílisticas e narrativas que foi tomando a partir das “sugestões” do programa.