``Entre Eu e Deus``: novo documentário de Yara Costa estreia no Centro Cultural Franco-Moçambicano
O novo filme da realizadora moçambicana Yara Costa – “Entre Eu e Deus” – irá ter a sua estreia oficial na próxima segunda feira, dia 16 de Julho, pelas 19h, no Centro Cultural Franco-Moçambicamo, em Maputo.
Será depois apresentado, em Novembro, na Ilha de Moçambique estando previstas, posteriormente, outras apresentações tanto em Maputo como no resto país (para além de uma projecção em Setembro num festival internacional em Marrocos).
O documentário “Entre Eu e Deus” toma como ponto de partida a história Karen uma jovem muçulmana, de 21 anos, estudante de Engenheira Civil.
Karen foi criada na Ilha de Moçambique, local historicamente cosmopolita onde a tradição Macua se fundiu com o Islão Suni, trazido no século VIII, e onde sempre conviveu pacificamente com o cristianismo trazido pelo colonialismo português e outras práticas religiosas.
Aos 14 anos Karen, “descobriu-se” no Islão, passou a cobrir-se com o hijab e, nos últimos anos, sob o olhar crítico da comunidade da Ilha passou a guiar- se pelas regras mais rígidas da religião islâmica.
Imagem captada durante as filmagens de “Entre Eu e Deus”
A partir de uma perspectiva observacional, o filme acompanha a vida de Karen, para revelar sem preconceito, o que está por trás do véu e a relação que tem com a religião que escolheu.
O documentário pretende dar um rosto, através de uma história particular, ao fenómeno de centenas de jovens que fazem escolhas religiosas radicais e as suas implicações no momento actual em que vivemos.
De acordo com a realizadora, “ Moçambique, um país historicamente multicultural e de diversidade religiosa, tem assistido muito recentemente às primeiras explosões de intolerância religiosa e manifestações de fundamentalismo e radicalismo. Ataques violentos no norte do país têm sido associados a grupos radicais islâmicos.
Nos últimos anos, tenho notado uma mudança no comportamento da comunidade da Ilha de Moçambique, nos meus amigos e especialmente – e mais visivelmente – nas minhas amigas jovens que adoptaram o que elas chamam de uma forma mais “pura do Islão” tendo começado a vestir-se com roupas escuras, hijabs e burcas em nome da religião.
Tal como muitas jovens, a Karen foi criada numa família religiosa, muçulmana moderada, de forte tradição Macua. Porém, na sua adolescência, começou a enveredar por práticas muçulmanas muito rigorosas, evitando inclusivamente frequentar espaços públicos. Hoje ela não sai de casa antes de se cobrir totalmente e quer ver Moçambique rígido pela sharia.
Como jovem, intrigou-me a mudança de comportamento de Karen. O que passa pela sua cabeça e o que faz com que uma jovem independente, estudante universitária, faça uma escolha tão radical?
Será isto é uma afirmação de identidade? Estará a ser forçada? Por que será que a Karen e muitos jovens da Ilha, se voltam para a Arábia Saudita em busca do “Islão puro”, sendo que as suas famílias são praticantes do Islão há várias gerações?”
Yara Costa realizou anteriormente “Porquê Aqui? História de Chineses em África” (2011) e “A Travessia” (2014).