Empresas tecnológicas investem em ``residências artísticas``
Com efeito, os artistas são livres de desenvolver os seus projectos pessoais e não há qualquer imposição no sentido desse trabalho vir a integrar os produtos da Adobe (nem os artistas são obrigados a usar os produtos da Adobe). O objectivo destes programas de “residências criativas” não é esse. É sim confrontar as equipas da Adobe com os “modelos criativos” dos artistas convidados por forma a estimulá-los no seu próprio processo criativo. A interacção é, por isso, constante e, nalguns casos, pode até acontecer a empresa envolver-se, de forma activa, no desenvolvimento dos projectos dos artistas.
Projecto de Kelli Anderson (artista residente na Adobe em 2015)
O projecto vai agora entrar no seu terceiro ano e as candidaturas têm-se multiplicado de ano para ano. No entanto, a Adobe está longe de ser a única a ter lançado este tipo de “residências artísticas”. A Autodesk tem um programa semelhante: os artistas são convidados a trabalhar no estúdio de design da empresa (Pier 9) mas, ao contrário do que acontece no programa da Adobe, o objectivo aqui é ajudar a empresa a desenvolver novos conceitos criativos através da interacção com os artistas. Objectivo semelhante têm também as residências promovidas pela Planet Labs, uma startup a operar no sector dos satélites.
Trabalho de George Zisiadis durante a residência na Planet Labs
Outras empresas têm procurado abordagens diferentes. Tendo em atenção o papel que a leitura pode desempenhar nos processos criativos (basta lembrar, por exemplo, como Bill Gates ou Warren Buffett têm enfatizado a sua importância), têm surgido iniciativas que procuram incluir a leitura como uma componente fundamental desse processo.
Um estudo de 2013, da Universidade de Toronto (Canadá), evidenciou que a leitura de livros ficção tinha um impacto mais produtivo (na perspectiva de gerar comportamentos criativos) do que a leitura de ensaios ou livros de “não-ficção”. Segundo esse estudo, a ficção tende a dotar os indivíduos com uma maior capacidade para lidar com a “ambiguidade” e as “áreas cinzentas” da vida enquanto a “não-ficção” impele a comportamentos “cognitivos” mais fechados e menos propensos a libertar a dimensão criativa.
Nesta perspectiva, não apenas algumas empresas implementaram “clubes de livros” e de “leitura” que funcionam durante o horário normal de trabalho como surgiram, recentemente, “residências de escrita” que procuram levar essa dinâmica ainda mais longe. Uma das iniciativas mais bem sucedidas (e das mais invulgares) foi lançada pela Amtrak (a empresa de caminhos de ferro dos EUA) que patrocina, neste momento, uma “residência para escritores” nos seus comboios. A “residência” funciona nas viagens de longa duração (de costa a costa) e teve, logo no primeiro ano, 16 mil candidaturas.