Documentário retrata os sons do Sahel
Realizado por Florian Kläger, Markus Milcke & Tobias Adam, o documentário narra a história do musicólogo norte-americano Christopher Kirkley e do seu projecto “Sahel Sounds”, um projecto que começou em 2009 como um blogue – que tinha como objectivo principal documentar a música daquela região de África – evoluiu rapidamente para uma editora discográfica e é hoje uma plataforma imprescindível para conhecer os músicos e as práticas artísticas daquela zona.
Em “Story of Sahel Sounds”, acompanhamos a viagem de Christopher Kirkley desde Portland (EUA) até ao Niger onde se vai encontrar com músicos locais (alguns, amigos de longa data, outros, potenciais talentos a incorporar no catálogo da editora) e, para além das inúmeras peripécias usuais em qualquer viagem em África, podemos acompanhar o trajecto de Mdou Moctar (um dos músicos preferidos de Christopher Kirkley) até à Europa onde irá fazer a sua primeira tournée.
O documentário, para além de constituir uma belíssima introdução à música e aos músicos do Niger, permite, simultaneamente, conhecer o notável trabalho de Christopher Kirkley. Muito se poderia escrever sobre este “explorador” musical mas, para já, fica a sugestão para a escuta de dois volumes por ele editados: “Music from Saharan Cellphones”.
Tendo viajado até ao Mali, em 2009, para conhecer e gravar a música tradicional daquele país, Christopher Kirkley foi surpreendido pelo facto de existirem centenas de “registos” musicais gravados em telemóveis. Sendo a região marcada pelo forte nomadismo e uma constante errância de populações migrantes, muita da música tradicional tocada era imediatamente “gravada” através de telemóveis (por vezes dos mais básicos) e assim distribuída. “Uma espécie de internet sem internet”, diz Kirkley.
Mesmo aqueles músicos que tinham capacidade gravar a música e guardá-la num computador usavam os telemóveis para distribui-la e assim se formou uma comunidade “assente na tecnologia mais barata disponível”, acrescenta Kirkley.
Depois de dois anos de árduo trabalho (muitos dos ficheiros que corriam pela comunidade não tinham as músicas identificadas e foi necessário um longo e penoso processo para associar as músicas aos músicos) Kirkley acabou por editar “Music from Saharan Cellphones” cuja importância vai muito para além da mera “curiosidade etnográfica. Na verdade, o radicalismo islâmico que posteriormente assolou a região, acabou por destruir todo este modo de vida e, assim, estes discos constituem hoje um valioso repositório de um “património” que de outra forma se teria completamente perdido.