“Como ouvir o planeta?” foi o tema que guiou o painel de abertura da Conferência Internacional do Festival Maputo Fast Forward 2024 no dia 18 de Outubro, em Maputo. O historiador e cientista político, Achille Mbembe, e a ecofeminista radical, Patrícia McFadden, procuraram responder a questão de fundo diante de uma plateia diversificada que acompanhava atentamente a conferência.
A abordagem ao tema não podia passar distante da crise climática global. Os oradores alertaram para a evidente dissociação entre “a natureza e a cultura”.
Achille Mbembe afirmou que “a terra tem corpo e pele, parte daquilo que a caracteriza é, ser um espaço em que todas as forças do universo se reúnem, onde ocorrem acções recíprocas de todos os elementos que geram o horizonte da vida. Temos que voltar a este horizonte, se quisermos aprender a escutar o planeta”.
Os impactos actuais, na era geológica de “Antropoceno”, só serão possíveis minimizar se o homem começar a compreender, segundo Mbembe, que ele não é o único a viver neste espaço, existe “uma variedade de seres, como fungos, plantas, tudo que cria as condições nas quais vivemos, para que possamos viver”. E é este ajuntamento de todas as formas de vida, que participam da mesma dinâmica, que nos faz estar perto dos princípios do Ubuntu, termo que significa “Eu sou porque tu és”.
O historiador professor da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, não dissocia os males causados no planeta com as práticas democráticas do continente africano. E, afirmou, “não há um caminho de sucesso possível que não seja a reversão e uma aposta profunda na educação”, num continente cuja juventude é a maioria.
A ecofeminista, Patricia McFadden volta-se a si mesma como um corpo vivo. Ela vem de uma tradição e ciclo de mulheres que tinham uma relação directa com a terra, e por isso não deixou de frisar, durante a sua intervenção que uma das acções que devem ser consideradas por todos é “viver em comunhão com a terra, não a explorando”.
E como não podia deixar de ser, explicou como pode se ter um mundo equilibrado. “O feminismo tem um papel importante na criação do presente e todos nós temos a responsabilidade de moldar um futuro melhor, humanizando-nos”.