ARQUITECTURA & DESIGN
Balini Naidoo usa a moda para melhorar a vida dos deficientes visuais
Teve lugar nos finais de Fevereiro, na Cidade do Cabo, na África do Sul, o Design Indaba, uma conferência para criativos nas áreas do design, arquitectura e moda.
Durante a conferência, conversámos com Balini Naidoo, uma designer que está a revolucionar a indústria da moda tonrando-a mais acessível aos deficientes visuais.
Balini fez parte dos 40 criativos seleccionados para participarem da exposição colectiva intitulada “Designers Emergentes” que foi um dos eventos paralelos que se realizou durante os dias da conferência.
Radar (R): O que é que te inspirou a criar esta colecção e, em particular, a incorporar braile na roupa?
Balini Naidoo (BN): Eu estudei design de moda e de téxteis na Universidade de Tecnologia de Durban e, durante o meu primeiro ano, eu fiz uma pesquisa e criei este conceito. Eu tenho um tio que é deficiente visual então mostrei-lhe a ideia e ele disse-me, “Olha, não existe nada na praça que ajude os deficientes visuais a identificar roupa”. Eles estão sempre dependentes de outras pessoas porque não conseguem ver. Então eu vi a lacuna no mercado e perguntei a mim mesma, “O que é que eu, como uma designer de moda, posso fazer para melhorar a situação deles?”
Sempre que inicias um projecto, durante o primeiro ano da escola de moda, eles perguntam-te “Porque é que estás aqui? Qual é o teu propósito em tornares-te designer de moda?” Então eu pensei pra mim mesma, “Este é o meu propósito. Esta é a razão pela qual estou a estudar moda.” Uma citação pela qual vivo e que gosto bastante é “Aquilo que fazes por ti mesmo morre contigo mas aquilo que fazes pelos outros dura uma eternidade.” Então acredito que ao começar este projecto eu quero criar um legado, criar consciencialização para as dificuldades dos deficientes visuais. Se tivesses que te pôr no lugar de alguém com deficiência visual vias imediatamente que eles têm muitas dificuldades, e não são só na moda. Assim, sendo eu designer de moda eu posso minimizar esta lacuna, criando consciencialização sobre as dificuldades dos deficientes visuais através das minhas roupas. E acho isso fantástico.
R: Quando vimos a tua colecção, apercebemo-nos do quanto nunca tivemos que pensar em como uma pessoa deficiente visual também quer andar estilosa. Elas também se importam com o estilo das roupas, com o tamanho, com a cor e em como cuidar das roupas. Nós nunca pensamos nisso. Foi por isso que quisemos falar contigo e perceber o porquê desta colecção.
BN: Exactamente.
R: Em termos de implementação, o quão fácil ou difícil seria para que outros designers de moda incorporassem o sistema que criaste nas suas próprias roupas?
BN: Não é complicado de se fazer. Se eu colaborar com pessoas do mundo inteiro, não vejo o porquê delas não poderem usar o meu sistema nas suas próprias roupas. O importante aqui não são as roupas nesta colecção mas sim o sistema que criei para ajudar os deficientes visuais a identificar as roupas. Eu adoraria colaborar com outros designers do mundo inteiro.
R: Já pensaste em submeter uma patente para este teu conceito?
BN: Sim. Estou mesmo no processo de fazer isso. Eu terminei a universidade no ano passado e o Design Indaba foi a minha primeira grande plataforma para mostrar este trabalho e, obviamente, é necessário dinheiro e fundos para fazer tudo isto mas eu não queria esperar mais um ano para ter as condições perfeitas. Eu pensei para mim mesma, “Isto precisa ser lançado agora.”
R: O que vem a seguir para ti, para a marca, para o sistema que desenvolveste?
BN: Eu fiz este estudo em KwaZulu Natal, em Durban. Trabalhei com a Sociedade de Cegos e Mudos de KwaZulu Natal e o sistema estava a ser implementado apenas em KwaZulu Natal. Então, mudei-me para Cape Town em Abril e pretendo interagir com as outras comunidades e que este projecto esteja localizado nas comunidades para ajudar os mais pobres. Já existe tecnologia que ajuda a identificar roupas mas será que a África do Sul e as pessoas Africanas no geral conseguem pagar pra ter acesso a estas tecnologias? Não, elas não conseguem. O meu sistema é uma forma de tornar estas tecnologias acessíveis para todos. Então, respondendo à pergunta, o que vem a seguir para mim é divulgar o meu sistema, consciencializando não só os designers de moda mas, principalmente, os deficientes visuais, o verdadeiro público alvo para o produto que desenvolvi. Estou a usar o Design Indaba como uma plataforma para criar esta consciencialização.
R: Como é que queres que as pessoas reajam ao teu trabalho?
BN: Eu quero que as pessoas tenham o mesmo prazer e se sintam tão inspiradas como eu em ajudar as outras pessoas. Se és um criativo ou designer de moda ou designer gráfico, o que quer que seja, eu quero que esta colecção te inspire a pensar mais além, a pensar em como podes estender as tuas habilidades para ajudar as outras pessoas e não simplesmente a pensar em ti mesmo. Então, enquanto designer, se alguém vê o meu trabalho o que eu desejo é que essa pessoa pense “fora da caixa”, que não copie outros designers internacionais, que sejam originais. Eu quero que as pessoas pensem além das peças de roupa criadas para servir o seu propósito mais básico. Eu gostaria que as pessoas pensassem no que pode ser feito com uma peça de roupa, no que pode ser feito com a “sua” arquitectura, no que pode ser feito com o “seu” design gráfico. É isso que quero que as outras pessoas que venham ver o meu trabalho percebam. Quero que pensem “fora da caixa”.