``A cidade inteligente: Tecnologias urbanas e democracia``: contra o capitalismo digital predatório
O livro Rethinking the Smart City – Democratizing Urban Technology, de Evgeny Morozov e Francesca Bria, tem agora uma versão em língua portuguesa, em edição da UBU, intitulada A cidade inteligente: Tecnologias urbanas e democracia.
O propósito de Evgeny Morozov e Francesca Bria é duplo: por um lado, elaborar uma contra-narrativa a respeito do actual modelo de “produzir-cidades” conhecido por smart cities; por outro, apresentar intervenções alternativas à urbanização derivada do que os autores chamam de “capitalismo digital predatório”.
Na apresentação do livro pode ler-se: “Todos queremos cidades com serviços eficientes e baratos que melhorem o transporte, a saúde, a moradia, a educação etc. Mas a questão é como evitar que nossas cidades se tornem máquinas de precarizar trabalhadores, beneficiando apenas interesses privados. A smart city – essa “grife” que se tornou a cidade repleta de serviços de empresas Big Tech – se mostrou muito mais funcional, otimizada e controlada do que participativa, sustentável e justa.
Como contraponto a esse sistema neoliberal, os especialistas em tecnologia e seus impactos socioeconômicos Evgeny Morozov e Francesca Bria oferecem uma série de exemplos e estudos de caso de formas de gestão cooperativa.
Por exemplo, as cidades de Amsterdão e de Barcelona, por meio do projeto Decode, iniciado em 2017, buscam implementar uma infraestrutura descentralizada de dados que devolve o controle sobre as informações aos cidadãos e oferece soluções de gerenciamento de dados flexíveis e atentas à privacidade.
De forma similar, o programa Datacités, lançado em 2016 em Paris, aborda o tópico do direito dos cidadãos a dados como bens públicos por meio do envolvimento de todas as partes interessadas no processo. O programa também incentiva modelos alternativos para serviços urbanos nas áreas de mobilidade, energia e controle de resíduos com base na concepção de dados como recursos públicos.
Para Morozov e Bria, retomar o controle sobre tecnologias, dados e infraestruturas é imprescindível para a gestão cooperativa da cidade inteligente do futuro – democrática e inclusiva.
Uma interessante recensão ao livro pode ser lida aqui.